A Livraria das Obras Inéditas


O cárcere imaginário
12/19/2008, 9:48 am
Filed under: Folhetim

Alguma pergunta parecia querer sair a qualquer momento da gaveta das calcinhas… mas era impossível saber sendo todas iguais e de mesma cor. Lista de compras em cima da cômoda e a casa por arrumar. As cortinas do Ceará, os quadros que pintou durante a faculdade, a pia sem louça, tudo aparentemente ordenado mas… Que bagunça! Com o cheiro de maconha e a narração da luta de box na sala, uma vontade de mandar ele pôr uma camisa… Recolheu o copo de Todd vazio. O chocolate parecia ter séculos! Passou para a cozinha com a louça na mão sem ser percebida. Deu mais uma boa olhada… Era o marido no sofá que desarrumava tudo? Mas o short de nylon combinava com as almofadas verdes! Então a sua bolsa esperando para ser levada pra passear e fazer as compras de natal. Coitadinha! Tão entediada ali jogada na poltrona! Sim, vai ver que era a Victor Hugo que dava a impressão de desordem. Vem cá! Tomou a bolsa de uma vez. Como que desencantado, ele resolveu sair de um transe e se dirigiu a ela:

– Se for sair não se esquece de trazer uma garrafa térmica. Deixei quebrar a nossa…
– Tá.

Tá? Como ele quebrou? Porque ela não perguntou? E que doçura era aquela? Um batom, sim! Não podia sair sem a boca bem rubra. Pronto!

Olhou bem…Desistiu. Tirou toda maquiagem.

Ficou igual uma palhaça. Adorava aquele batom. Estava até quase acabando. Sentiu um mal estar ao duvidar se era mesmo seu o batom esquecido no armário do banheiro. Ah, o banheiro uma zona! Que droga essa mania dele jogar as cuecas no canto… Nem para enxaguar a pasta de dente que cai na pia! Desse jeito não há arrumação que dê jeito! Foi juntando a roupa suja e já ia começar a falar quando se deu conta que falava aquilo todo dia. Jogou toda a roupa pro alto. Foda-se! Precisava respirar a rua.

Mas que graça tinha? A lista de compras era tão grande que aquilo não passava de uma tarefa doméstica. Passeio que é bom não tem roteiro de promoção, bombril, legumes e papel higiênico. Se bem que nestes hipermercados tem de tudo! Até sessão de lingerie.

Ao invés de olhar as promoções de sempre, resolveu olhar as calcinhas e sutiens rendados. Não resistiu e comprou um conjunto que a faria parecer uma pin up. Desistiu das compras e correu para casa com um sorrisinho safado que mal podia se conter. Passou pela sala voando, onde o marido permanecera no mesmo lugar. Tomou banho, massageou-se com cremes, alisou os cabelos, fez um penteado e se maquiou – agora sim lembrou que o batom era dela. Vestiu a lingerie nova e se deu uma boa olhada. Poderia sair na rua só vestida com aquilo se não fosse o pudor social. Riu-se sozinha, triunfante, e ficou um bom tempo pensando nas brincadeiras a fazer com o “seu homem”.

De repente, o barulho da privada soou como uma sirene. Sim, era hora da prática! Saltitou como uma coelha. Passou dançando pelo corredor e num rodopio apareceu na sala…

Tan nan!

Ninguém além do barulho da televisão. Nem mesmo almofadas amassadas. Voltou para o banheiro e só havia roupas suas espalhadas. Percorreu toda a casa e nenhum rastro de homem. Foi até a cozinha e lá estava a garrafa térmica intacta.


1 Comentário so far
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ui ui titia! é o batom. ela tem q jogar aquele restinho velho fora e comprar outro q tenha todas as propriedades de um novo batom novo (hidratante, colorante, modificadores…).
ela foi para o quarto com seu amante, teve uma tarde de orgasmos múltiplos. livre da bagunça daquele homem ela se masturbou intensamente na própria bagunça…
vc tá tão titia nesse fim de ano.
quero ver a lingerie.

Comentar por Marcele




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